domingo, 18 de janeiro de 2009

Cogumelos - overview da minha primeira temporada

Nota prévia:
Isto é apenas um overview descomprometido da minha primeira temporada de identificação amadora e entusiasta de cogumelos.
Lá porque os fotografei,
não quer dizer que sejam comestíveis.
A larguíssima maioria não o é.
Work-in-progress - Conforme tiver tempo, vou legendando cada imagem.

______________________________________

Tenho tanto para aprender e descobrir sobre cogumelos. Há tantas espécies que quero encontrar e ainda não dei com elas. Afinal, só comecei a prestar mais atenção a estes seres à menos de cinco meses.

O pouco que sei, devo-o em grande parte, aos elementos do fórum

Participei ainda em duas actividades, uma promovida em Abrantes na EPDRA, em parceria com uma associação micológica, e Ecofungos. Foi tempo muito bem empregue, no que se refere a cogumelos de cultivo. Tenho observado a sua agenda. Têm um calendário intenso e interessante de actividades e saídas de campo. Uma equipa fantástica e um fórum online bastante animado também.

Por último, tive a sorte de participar numa actividade, meia micológica meia sobre ervas aromáticas no CMIA de Vila do Conde. Entre a equipa do CMIA e o Carlos Venade, foi mais um dia muito bem passado.

Não descobri apenas a cogumelos. Mais importante, são as pessoas que vamos conhecendo, com os mesmos interesses e com que hoje mantenho um contacto regular, à volta não só deste tema, mas também gastronomia, caminhadas e outros. Isto é como as cerejas...

Acho que estes seres, ainda têm muito para me revelar.

Algumas imagens de cogumelos que encontrei até agora. Quando estão identificados, foi, na maioria das vezes com a colaboração do cogumelosportugal.forum-livre.com

Até breve!

Manel


Clique na foto para as aumentar
Laccaria amethystina. São de um púrpura intenso e delicados. Já tinha encontrado outros em Ponte da Barca. Mas estes, em Castelo de Paiva, tinham o chapéu com 8 cm. São comestíveis com um aroma agradável. Mas por não terem muita substância, se um dia fizer uma colheitazita duns poucos, vou usá-los misturados numa salada, ou para saltear com uns espinafres.
Tremella mesenterica no tronco de carvalho em Paredes de Coura. Eram duas na mesma árvore, com o volume de uma mão grande, fechada. Formam bolsas com a textura de algas desta cor lindíssima. Foi em Dezembro que as encontrei e havia neve no chão da floresta. Outra espécie que já tinha encontrado, em ramos caídos, mas com dimensões mais pequenas.
Hydnum repandum ou pé de carneiro. É um cogumelo que também encontrei muito tarde no frio. Foi a minha última colheita micofágica. Dizem que os de maior tamanho são mais amargos. Esses usei para fazer uma sopa com grão de bico. Deliciosa. Os mais pequenos salteei com alho e ervas, óptimos. Têm uma textura levemente enfarinhada, são carnudos e sabem a aveia. Em vez de póros ou lâminhas têm agulhas que se desprendem com muita facilidade.
Calocera Viscosa. Não imaginam o tempo que perco a fotografar e contemplar uma coisa destas, quando as encontro pela primeira vez. Como é que num monte a 700 metros de altura entre a neve e o frio, em cima de um cepo de uma conífera coberta de musgo, vamos encontrar seres vivos tão parecidos a corais, aquáticos e tropicais?
Armillariella mellea completamente queimados pelo frio. Quando maduros, são cor de mel (daí o mellea, acho). O nome do género também é curioso. Será por causa de uns pontinhos prateados que tem no chapéu, uma referência à esfera armilar? - Conseguem ver o que estou a dizer nestes da imagem a seguir que encontrei em casa de uns amigos?

Provei um pouco de um chapéu e era muito desagradável. Ácido e amargo. Já li que os carpóforos novos podem ser comidos desde que cozidos e que cru é um pouco venenoso. Há histórias que os primeiros colonos dos EUA, comiam-nos e chamavam-lhe "honey mushroom". Não fiquei lá muito entusiasmado. Mas são bonitos, acetinados com as estrelinhas prateadas.
Recentemente no fórum apareceu um post, afirmando que o maior organismo do mundo, foi encontrado também nos EUA em 1992 e era constituído por uma "estrutura" de uns cogumelos (os quais, são só os frutos) próximos a estes, os Armillaria ostoyae, com 2.400 anos e dimensão superior a 1.220 campos de futebol. Sendo que nasceu de uma partícula microscópica. É parasita de madeira viva, logo não dá lá muita saúde às árvores vizinhas.
Amanita muscária no Pinhal de Ovar. Para mim, a espécie mais fotogénica. Sobre ele, fala-se e escreve-se muito. Rituais shamânicos, contos de fadas, expressões surrealistas, desenhos animados. Quem é que ainda não viu uma ilustração, pintura, brinquedo ou um simples adorno de um cogumelo vermelho com pintinhas brancas?
Outra Amanita muscária. Esta foi a primeira que encontrei. Acho que por estar num solo não arenoso, as partes brancas do chapéu, não são "polidas" pela areia e ficam mais proeminentes. Estas variações da mesma espécie em habitats diferentes, são outro desafio na identificação. Isto para já não falar das formas e cores que assumem enquanto amadurecem. Mais maduros que estes dois, os chapéus são planos e começam a ficar alaranjados.
Macrolepiota procera. Com um chapéu de 30 cm, carne fofa, leve e frágil. Todo ele é constituído por lâminas enormes. O pé é uma cana com 40 cm. Tem imensos nomes populares, como roca, frade, púcara, guarda-sol. Azeite e flor de sal numa frigideira em lume brando, são um manjar!
Penso tratar-se de um Xerocomus badius, fotografado e Castelo de Paiva. Mas é uma identificação incompleta que aguarda próximas frutificações.
Paxilus involutus. Este cogumelo era considerado comestível e hoje é tido como venenoso, podendo mesmo provocar a morte se for ingerido regularmente e com frequência.
Provavelmente uma Mycena ou um género próximo (satélite). O rigor na identificação no fórum, não permite por vezes, irmos longe na identificação. As minhas descrições, nem sempre ajudam, também. São cogumelos lindos e frágeis. Observem os detalhes nas orlas dos chapéus.
Género Tricholoma.
Tudo me encantou neste exemplar: as cores e as nuances, o remate pontilhado na orla do chapéu e o ondulado a fazer aparecer as lâminas alvas, como a saia de uma dançarina de cancan.
Uma das características de identificação de um exemplar, é a cor dos seus esporos. Corta-se o pé, põe-se dentro de um pirex e depois fotografa-se com uma cartolina a contrastar por trás. Como os esporos do Tricholoma são brancos, escolhi a cartolina preta. O nome em inglês faz todo o sentido, pois fica-se com uma impressão da parte inferior (himénio) do cogumelo: spore printing.
Sacordon squamosus. É um cogumelo verdadeiramente sensorial. É para ser visto, tocado por todo, cheirado e experimentado. Parece um ser jurássico, com escamas proeminentes de toque tipo cachemira. Até aos cerca de 8 a 12 cm, são circulares. Quando maiores, são mais acinzentados, menos aveludados e disformes. O desta imagem, está por cima de outro ainda maior mas ainda arredondado.
Por baixo, são agulhas cinzas e grossas que parecem de borracha, muito suaves ao toque. É carnudo e cheira muito bem. Dizem que só serve para ser seco e usar como condimento. Dizem ainda que os carpóforos (exemplares) maiores são amargos. Afirmações um tanto discutíveis. Sequei alguns, não muito maduros é verdade, às lâminas e eram muito saborosos. Crocantes estaladiços, já temperadas de sal e tudo (ele por si só já é saboroso e condimentado). Com umas bejecas, não sobrou nada.
Carpóforo maduro, assumindo formas mais irregulares. Mas ficam ainda mais torcidos.
Cortinarius? penso que postei uns muito parecidos, colhidos no mesmo local. Mas a imagem ficou tão interessante com os líquenes por trás que adoptei-a para apresentação deste blogue.
Craterellus cornucopioides ou Trompeta/Corneta dos mortos. Sempre quis encontrar estes exemplares. Aconteceu quando menos esperava numa levada em Terras do Bouro, debaixo de um carvalho. São mais pequenos do que imaginava e estão muito dissimulados entre a terra e a vegetação. Dizem que secos e moídos são uma excelente especiaria. A ver se pró ano apanho uns poucos para experimentar.
Fistulina hepatica. Estes nomes latins são castiços. Portanto o cogumelo em forma de rim que nasce nas fendas da madeira morta?
Por cima parece couro de porco e húmido.
Por dentro, vermelho, sumarento e marmoreado, como os melhores bifes. Já ouvi falar em muitas formas de consumo deste cogumelo. Ele por si, é um pouco ácido e de textura muito agradável. Da próxima, vão virar um carpaccio, temperado com um glaze de vinagre balsâmico, zest de um citrino, talvez lima e endro.



Amanita rubescens. Cheirosas e apetitosas. Parecem pequenos pãezinhos de hamburguer neste estado. Apresentam uns veios rosas na carne do pé que as distingue bem das debaixo. São comestíveis desde que bem cozidas. O problema é a confusão com as mortais primas pantherinas...
Amanita pantherina. Venenosa. Nestes estados de maturidade, não são confundíveis. Porém, um pouco mais maduras, as de cima, ficam um pouca mais sujas e acinzentadas e estas um pouco mais acastanhadas. E o pior é que partilham o mesmo habitat. Daí que resolvi nunca experimentar uma Amanita rubescens, apesar de não me ter faltado vontade...
Lactarius piperatus. Nunca mas nunca experimentei nada tão picante. Dizem que os povos de leste cozem-nos imenso e fazem pickles deles. Eu estou a pensar em cozê-los e/ou secá-los e tentar aromatizar azeite, como alternativa às malaguetas, a ver o que dá...
Boletus edulis um jovem e outro muito maduro. Encontrei-os assim, lado a lado. São dos melhores cogumelos que se pode encontrar para comer. O grande já está um pouco bichado demais. Mas a lição que tirei daqui foi mais uma vez a mutabilidade maturacional das espécies.
Suillus luteus, estavam muito bonitos, debaixo de coníferas num caminho sobre o musgo. Foram os primeiros Suillus que encontrei. É um género cujas espécies baralho um pouco e dou azo a algumas confusões no fórum. Na próxima temporada vou estar mais atento. São comestíveis desde que se retire as cutículas do chapéu e himénio. Parece que estas são laxantes. A carne sabe levemente a frutos secos com um aroma agradável.




Trametes versicolor? é uma espécie lenhícola. Vivem em colónias, sobre madeira morta e quando menos maduros as cores dos leques são mais vivas do que estes. Têm a particularidade de terem os esporos muito grandes, aparentemente visíveis com uma lupa. A identificação não é segura, pois há espécies muito parecidas que nos Estados Unidos são popularmente conhecidas por caudas de perú. Perdoem-me mas não sei o nome científico destas últimas.
Russula cyanoxantha? Eu penso que sim, a avaliar pela cor do exemplar mais jovem da direita. Experimentei. São adocicadas e sabem a noz. Muito boas, só salteadas com sal.
Russula virescens? acredito que seja por ser esverdeada e gretada. O sabor é semelhante às anteriores. Partilham o mesmo habitat, bosques de folhosas e só as encontrei, uma vez no final do Verão, para pena minha.
Piptoporus betulinis. É um cogumelo muito bonito que vive na madeira morta das bétulas e vidoeiros (acho). Tem uma forte capacidade de apodrecer a madeira. No Fórum *Ento*Loma indicou-me um site sobre este cogumelo. Fiquei a gostar ainda mais dele. Já a múmia tirolesa, à 5.000 anos, foi encontrada com restos de um na mão. Arqueólogos especulam que o usava com fins medicinais. Este cogumelo tem propriedades antibióticas. É tão duro que já foi usado para fazer rolhas para frascos de rapé e correias. Há quem já tenha tentado comer os carpóforos mais jovens, mas parece que é uma experiência semelhante à degustação de rolhas...






Cantharellus cibarius. É um cogumelo muito curioso. Encontrei-os debaixo de bosques mistos onde havia muitas faias. As folhas amarelas destas, como a que se vê do lado direito da imagem que tinham mesmo começado a cair no final do Verão, camuflavam-nos perfeitamente. Têm uma cor, amarela alaranjada e depois de lavados, exalam um intenso cheiro a damasco. O administrador do fórum deu-me uma receita deliciosa, onde os salteia em manteiga e queijo das ilhas esfiapado. Deliciosos! Hermínia, outra usuária do site, fez uma tarte doce com os cibarius caramelizados, com um aspecto fabuloso. É um cogumelo muito versátil.
Leccinuns nas mãos da Mó. Foi a nossa primeira colheita. Os Cibarius e Lecinuns. Penso que o maior talvez seja um versipelle, o que significa que assumem várias formas e cores. Tem um sabor extremamente intenso, são óptimos para secar. Cozinhados frescos, têm uma textura esponjosa. Eu não me importo, mas não é para todos. Uma sopa destes Leccinuns com grão de bico é das melhores coisas que já fiz com cogumelos.
O primeiro Leccinum que a Mó encontrou. Podemos dizer que foi o primeiro cogumelo que encontrámos e colhemos.
Amanita fulva? Mycota ficou surpreso por eu encontrar tantas vezes esta espécie. Nas próximas frutificações terei que completar voltar a este trilho para confirmar a identificação. É uma espécie comestível depois de cozida. Mas com todos os cuidados, uma vez ser uma Amanita...
Um bicho mimético. Fui ver o que eram estes dois cogumelos e qualquer coisa saltou entre as folhas. descubram o que é se forem capazes...

12 comentários:

  1. Manel,
    Parabéns por este espaço! Apesar de pisarmos as mesmas pedras, tenho que confessar que, com o tempo que tenho, acabo por fazê-lo sempre de forma mais apressada e superficial: Tenho a certeza de que virei acabar por descobrir aqui muitas das coisas que me escaparam no terreno.
    Um abraço e continuação do excelente trabalho!
    Paulo

    ResponderEliminar
  2. Paulo,
    Não é superficialidade. Focas outros aspectos. Quantas vezes passei pelo externato na subida para a Argela e não lhe liguei nenhuma?
    A blogosfera que, só agora estou a descobrir, permite de complementariedade e isso é bom.
    Abraço,
    Manel

    ResponderEliminar
  3. Olá Manel. Na verdade sempre tive um medo terrível de comer cogumelos mas quando me lembrei de escrever um post sobre os estranhos (para mim) círculos e andei a fazer uma série de pesquisas, acabei por ficar muito interessada em adquirir mais conhecimentos sobre eles. Acontece que este natal recebi 3 presentes: um saco revestido a plástico e que dias depois apresentava 4 formações de cogumelos que foram crescendo, crescendo e que deram uma óptima produção, com a promessa no papel de vir a dar mais duas. Já comemos a primeira produção e realmente eram óptimos. Eram os Pleurotus pulmonarius (?). Depois um outro saco com um conteúdo estranho que diz para ser misturado com folhas e restos da floresta e depois preparar canteiros que irão produzir mais cogumelos não sei de que tipo. E por fim uns saquinhos com uma espécie de "buchas" cheias de esporos e que serão para meter em buraquinhos que terei que abrir em troncos de carvalho que já estamos a preparar. Essa "buchas" contêm esporos de Flammulina velutipes e Shitake. Por isso, para quem tinha pavor de comer cogumelos ao ponto de só conhecer o gosto dos cogumelos de paris, já consegui dar um passo de gigante.
    Fiquei interessada nesses "pdf's" sobre cultura caseira. Quem sabe se de repente conheço uma área que me fascine muito mais?
    Gostei imenso de conhecer este cantinho. Devido ao adiantado da hora já não me é possível ler tudo como deveria, mas fica a promessa de outra visita muito em breve
    Felicidades para este teu trabalho.
    Beijinhos

    ResponderEliminar
  4. Andei por aqui a «caminhar» e gostei porque adoro cogumelos!(desde menina que tenho recordações fantásticas de cogumelos...)Obrigada e parabéns pelo blog
    Voltarei ;)
    Arménia Baptista

    ResponderEliminar
  5. Hehe, quando cliquei na foto quase dei um salto aqui na cadeira ;)
    Perfeito mimetismo da rãzita
    Abraços

    ResponderEliminar
  6. Gosto do espírito deste espaço... Imagino que já conheça, mas aqui vai uma ligação para um guia de campo de cogumelos silvestres da Mata Nacional das Dunas de Quiaios.

    http://www.pluridoc.com/Site/FrontOffice/default.aspx?Module=Files/FileDescription&ID=2469&lang=pt

    Até breve.

    ResponderEliminar
  7. Boa reportagem de uma saída de campo! Estas e muitas outras espécies aguardam o nosso olhar curioso, assim que a chuva começa a cair. Felizmente o interesse sobre a biodiversidade nas nossas florestas começa a crescer, apesar de ainda ficar muito aquém do que acontece nos países vizinhos, mas estamos no bom caminho.
    Não podemos proteger o que é o nosso Património Natural, se não soubermos que ele existe. Para isso há que fazer como o Manel, sair e descobrir! Parabéns.

    Apenas um pequeno esclarecimento, a armila da Armilaria mellea, explicando de forma fácil, é uma espécie de anel que reveste o pé do cogumelo, até à base.
    Um abraço e boas passeatas!!

    ResponderEliminar
  8. Viva Roc.

    Obrigado pelo posto e correcção sobre a Armilaria.

    Até breve!

    Manel

    ResponderEliminar
  9. Nuno (Cogumelos de Portugal)2 de outubro de 2009 às 18:19

    Excelente e interessante espaço de uma excelente e interessante pessoa! Parabéns Manel!

    Abraço!
    Nuno

    ResponderEliminar
  10. Manel,

    passei pelo seu blog "acidentalmente" e parei! Li e saborei o gosto que tem pelos lindos e variados "mushrooms" ... continue com esse gosto e paladar!
    Eu voltarei para aprender mais :)

    Felicidades

    Fada*

    ResponderEliminar
  11. Parabéns pelo Blog, achei por acaso e já coloquei nos favoritos.

    Nota 10!

    Abraço!

    ResponderEliminar