terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

O "alfarrabista" digital: Internet Archive

Este tópico serve apenas para comunicar a todos aqueles que têm interesse por livros e publicações antigas, da existência do Internet Archive. Parece que há lá de tudo, mas por exemplo, fiz uma busca por "mushroom" e de repente estava literalmente a folhear um guia de 1902, com fotografias da época e imensa informação sobre cogumelos. Esse livro é o The Mushroom Book. Vejam e depois façam as as pesquisas, em função dos vossos interesses.

É tão real que quase espirro com o mofo e o pó...

Até breve!

Manel 

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Os garranos e eu

Gosto dos garranos. No fundo invejo o seu compromisso entre a condição selvagem, livre, o olhar dócil e o facto de nos tolerarem a uma distância segura.

Fico indignado com a crueldade, quando estes animais são alvo de chacinas, como a que a aconteceu há cerca de dois anos na zona de paisagem protegida do Corno do Bico, Paredes do Coura, onde vários cavalos foram abatidos a tiro, ou deixados a agonizar. A causa? Não se sabe, fala-se de rixas entre vizinhos. Provavelmente a justiça vai morrer solteira...

Fora isso, imagino que sejam ainda as presas de maior porte dos lobos. É comum ver ossos limpos que parecem de cavalos, espalhados pelas partes altas das serras. Mas nunca se encontra uma carcaça ou um esqueleto.

Mas vamos falar de coisas mais alegres. Segundo li, é uma raça de origem celta, muito primitiva e considerada em perigo de extinção. As ameaças são os agricultores  que não gostam da sua condição de animais livres, pois danificam-lhes as culturas quando o mau tempo aperta e eles descem das montanhas, bem como os cruzamentos com outras raças. 

É um cavalo de porte atarracado e robusto, bem adaptado à montanha e à intempérie. Para quem estiver interessado, há diversos sites e blogues sobre os pormenores e carecterísticas da raça, é só googlar - garrano. Eu vou ocupar-me mas com os garranos do Minho e o que eu posso aferir daí. São opiniões pessoais, posso estar enganado. Se assim for, por favor, comente este tópico e corrija-me.

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Potro num redil feito de esteios com pasto, no meio de um bosque no Mezio no final da Primavera de 2008. Quase todos os garranos presos, quando nos aproximamos vêm ter connosco. Não acredito que queiram "festas", apesar de não se importarem de ser tocados. Estou quase certo que se os soltarem eles piram-se sem hesitar, sem voltarem para trás para mais carícias, como faria um cão, por exemplo. Esta é a diferença entre o garrano livre e o cavalo de sela ou tracção. É que o garrano vê o redil e foge, enquanto os seus primos domesticados, vêm a calariça e até aceleram o passo para ela, onde sabem que ali vão ter descanso, comida e tratamento.

Este cavalo foi fotografado no final da Primavera no planalto do Mezio. Saliento dois aspectos. O primeiro é que os garranos já apareciam em manada mas dispersa, como se vê pela imagem é um aqui outro ali. O segundo é que este exemplar, de todos os que vi, é o que mais me fez lembrar os das pinturas rupestres ou os das descrições dos garranos mais genuínos. 

Cinco ou seis semanas depois, muito perto daquele mesmo planalto, uma manada, com muitas crias a descansar debaixo destas coníferas. Reparem como estão todos muito juntos. Os adultos estão com as cabeças bem altas. Nunca os tinha visto tão atentos a mim. Nem pastam.

Fiquei entusiasmado com esta cria a mamar. Talvez um pouco demais. Escondido, em pé atrás do tronco de uma árvore.

Este macho não achou graça nenhuma, eriçou-me a crina, abanou as orelhas várias vezes e arreganhou as gengivas. Então um garrano mais novo passou por ali e demonstrou nele o que estava a sentir, expulsando-o da manada a galope e mordendo-lhe os quadris, passando os dois, nesta perseguição a dois metros de mim.

Quem devia estar àquela distância dali, era eu. Por minha culpa, o pobre do jovem macho foi parar longe da manada, tipo de "castigo". Aprendi a lição. Nunca mais me aproximo tanto de manadas com crias tão novas.  

Branda de Poulo da Seida - Gavieira, Serra da da Peneda. A história podia ser igual à anterior. O adulto está a encarar-me. Mas desta vez, fiquei mais longe, aninhado atrás de uma pedra, em vez de ficar em pé e usando a zoom.

Apesar de ainda olharem para mim, um macho até se deitou à minha frente e esponjou-se na erva, o confiado.

Quando me vim embora, já não me ligavam nenhuma. Nem os adultos, nem as crias. Era como se ali não estivesse. Esta foi a manada de garranos mais bonita que já vi.

Entrando pelo Verão, as crias crescem um pouco e deixei de ver as manadas. Vê-se as éguas preocupadas a pastar com uma cria. Aqui no Mezio em Agosto, um garrano, está tão ocupado em pastar que nem se importa de servir de fundo de foto para a Isabel.
Dois garranos pastam tranquilamente em Setembro no Curral do Vidoeiro, Gerês.
Já em Outubro, esta fêmea que parecia prenha e a cria em baixo no Mezio, andaram comigo, mais de meia hora. Eu fotografava cogumelos, eles pastavam. Tentei tirar-lhes uma foto com a cara para cima, foi impossível. O comportamento é completamente diferente do de há uns meses atrás quando as crias eram pequenas. Parece que agora o que importa é arranjar nutrientes para o Inverno que aí vem.


Outubro, Trilho do Castelo, Terras do Bouro, a cena repete-se, não levantam a cabeça para a fotografia, nem por nada. É pastar e andar, calmamente a passo pela floresta.
Há umas semanas atrás em Sistelo Arcos de Valdevez. No meio da neve e frio. Com pouco pasto, já nos olham languidamente e com a pelagem densa comprida e fosca do Inverno. Quem sabe trazemos um fardito de feno... e já não mostram o vigor do final do Verão coitados. Aguentem só mais um pouco. A Primavera e o pasto verde já estão quase aí!

Até breve!

Manel

PS - Conheço dois lugares com manadas de garranos bem numerosas. A mais interessante,  no Trilho da Mesa dos Quatro Abades, Freguesia de Refoios, Ponte do Lima (entre Vacariça e Sra do Monte). A outra em S. Lourenço da Montaria, mais para os lados de Vila Praia de Âncora (interior). Esta última talvez mais dispersa nem sempre fácil de encontrar. Com sorte, pode ser avistada perto do santuário da Sra. do Minho.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Líquenes?

Vira e mexe dá-me para os fotografar. No fundo, é o mesmo que me atrai nos cogumelos ou nas plantas. Só que ultimamente, tenho vindo a prestar-lhes mais atenção. Ou pelo menos, no que julgo serem líquenes, talvez em fases mais jovens e interessantes de maturidade, onde apresentam cores mais vivas, formas mais atraentes e texturas também mais apelativas.

Se alguém vir este tópico e perceber que estou para aqui a dizer grandes asneiras, confundindo líquenes com outra coisa qualquer, por favor, não hesite em corrigir-me, eu agradeço.

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Berma de um carreteiro nos Arcos de Valdevez, entre musgo e outros líquenes. Confundi-os com cogumelos. Tinham 4 a 6 cm de comprimento e uns chapéus com vários lóbulos encarnados vivo, com cerca de 5 mm. Fev.09. Parece tratar-se mesmo de um líquen: Cladonia macilenta. Identificado em CogumelosPortugal.


Tapete fofo de musgo e umas agulhas verde esmeralda que julgo serem líquenes. Na Branda de Crastibô, Arcos de Valdevez. Fev.09

Dunas de S. Jacinto, Aveiro. Minúsculas taças cónicas desta bonita cor, entre outros líquenes mais espalmados, sobre solo arenoso e debaixo de pinheiros. Fev.09

Carreteiro em Germil, Ponte da Barca. Parece que está fixo ao musgo na vertical por "velcro" na parte anterior. Set.08

Também em Germil, galhos, cobertos por pequenos ramos, verde acinzentados que fazem tufos e têm um leve aroma, até agradável. Jan.09
Corno do Bico, Paredes de Coura. Um penedo inteiro coberto por estes flocos, cada um tem mais ou menos, o tamanho palma de uma mão. Mar.07.


Até breve!

Manel

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Vale Glaciar do Vez com Vagabundeandos: Há pelo menos um carro de bois a ranger sobre os carreteiros...

Foi uma caminhada dura para mim. Acho que estou em baixo de forma para tanto carreteiro. Obrigado Vagabundeandos, pela paciência  e esperarem aqui pelo caracol.

É um percurso de brandas, muito bonito, todo ele feito por carreteiros íngremes e caminhos de pastores. Um dia muito bem passado e que me fez muito bem!

Quando vi e ouvi um carro de bois ranger pelos carreteiros, senti-me um privilegiado. Afinal esta rede imensa de caminhos de pedras com os trilhos dos carretos dos ainda faz juz ao seu nome. Os últimos carros de bois ainda rangem em cima deles, para os lados de Sistelo. Outro dia, vi por baixo de uma casa, vários carretos em bom estado, todos guardados em Germil, se calhar, lá na altura das colheitas ou vindimas, também os devem usar...

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A neve do último mês derreteu, engrossou o caudal dos ribeiros que alagaram as partes mais baixas dos carreteiros

Serão cogumelos? Identificado em  cogumelosportugal
Afinal parece que são líquenes: Cladonia macilenta.

Qual seria o uso destes edifícios isolados e tão sólidos no meio da montanha, onde apenas existem uns campos, onde só  deve crescer feno para o gado? Currais em baixo e silagem de feno para os animais em cima?

Uma das muitas escarpas que contornámos no caminho, fotografadas à pressa, pois havia muito chão para andar...

Uma branda, já bastante alta, com uma fonte de água muito fresca no meio mas, daqui ainda haveriamos de subir bastante.

Vista deslumbrante deste local

Cá está ele, fotografado de longe, com a zoom no máximo. Uma carga de lenha, quem sabe para se aquecerem, fumarem uns enchidos ou cozerem um belo pão. O ranger do carro, encheu a serra e a minha alma. Se ainda houver daqueles com eixo e rodas de madeira, vou ver se consigo filmá-los este ano.

Branda do Crastibô - Fantástico e intrigante!

Das brandas que já visitei, esta é a mais interessante. Os seus cortelhos, sugerem que inicialmente tenha sido usada apenas como uma branda de gado. Depois deve ter passado para branda de cultivo. Daí os currais maiores, os fornos, os campos de centeio, talvez batata. As brandas de gado foram transferidas então bem mais para cima. A inverneira, ou seja, a habitação permanente desta comunidade pastoril, ainda deve ser Porto Cova, onde iniciámos o trilho.


Cortelhos, como os de Poulo da Seida, na Freguesia da Gavieira

Tive a sorte de ver a actividade pastoril na Branda de Gorbelas quando estavam a cortar e silar o feno. Era muito mais pequena que esta. Agora imaginem o que deveria ser esta comunidade nos seus tempos áureos. Será que um dia, os produtos autóctones irão voltar a ser revalorizados e estas comunidades possam ser reactivadas, com esta ou outras actividades eco-sustentáveis? Desabafos de um utópico...
Ribeiro que passa pela Branda de Crastibô
Tapete denso e fofo sobre o muro de pedra solta na Branda de Crastibô. Será musgo e líquen?
Despedimo-nos de Crastibô com o sol a sumir por entre os seus currais sem telhado


Última perspectiva do Vale Glaciar do Vez, já no final do percurso

Quero agradecer aos autores do texto "Pastoreio livre no Norte de Portugal". São eles Adelino Gouveia, José Vieira Leite e Rui Dantas. Desde que subi até à Branda de Poulo da Seida que pergunto e pesquiso sobre o funcionamento destas comunidades e que os cortelhos me intrigam. Nem que fosse mais sintetizada, era este o tipo de informação interessante que eu gostaria de ver impresso nas centenas de quilos de papel produzidas anualmente pelas autarquias, turismo, icnb, associações de desenvolvimento regional, e demais organizações envolvidas na promoção desta área. Algum com interesse questionável. Aos  autores, muito obrigado. 
O texto completo está disponível nesta página da SPER. Procure por "Pastoreio livre no Norte de Portugal.

Até breve!

Manel

PS - Se gostou deste tópico, veja também o do trilho das brandas

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Sol finalmente nas Dunas de S. Jacinto

Já estava farto de estar em casa, ver o céu desabar água e vento.

Hoje fui  às Dunas de S. Jacinto. Terreno fofo e plano para recomeçar a esticar as pernas.

Uma excelente tarde, para sentir leves indícios de uma Primavera ainda longínqua e o final de um Inverno, em que as aves de arribação ainda não lhes deu para rumar a norte.

Quem quiser ajudar-me na identificação de espécies, eu agradeço.

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Joaninhas. Havia várias sobre esta planta. Indícios da Primavera, ou apenas uma pinta vermelha que já me faz feliz?
Arbusto despido de folhagem, só com este tipo de floração. Salgueiros, identificados por Rafael Carvalho do Blogue Arquitecto D'ouro
Arbustos densos com uns bagos curiosos vejam na imagem debaixo. São sabinas-da-praia (Juniperus turbinata), identificadada por Rafael Carvalho. Segundo consegui apurar, os bagos usam-se para aromatizar aguardente. No entanto estou curioso para saber se também dão para usar como tempero, como os bagos daqueles zimbros com as folhas mais "espinhadas" (desculpem a minha ignorância).

Aproximando-nos do mar embrenhamo-nos num pinhal de troncos finos e retorcidos. Efeitos da intempérie?
Longo passadiço, recentemente restaurado, sobre duna com flora diversa protegida, que nos leva até ao mar.
Estou tão curioso sobre estas pequeninas taças verdes cónicas. São líquenes?
Cresciam na berma do caminho, debaixo de pinheiros baixos, num local sombrio, sobre solo dunar, arenoso claro, entre outras formas do que me parecem ser também líquenes.
Centenas de patos, descansam tranquilamente nas lagoas protegidas com cercas altas

Cercas protegem a natureza da estupidez humana. Se esta não existisse, sob as mais diversas formas, como a caça, poluição, urbanismo desenfreado, ou simples desinformação e descuido, a maioria dos nossos cursos de água, poderiam hoje apresentar cenários como este.

Até breve!

Manel