terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Os garranos e eu

Gosto dos garranos. No fundo invejo o seu compromisso entre a condição selvagem, livre, o olhar dócil e o facto de nos tolerarem a uma distância segura.

Fico indignado com a crueldade, quando estes animais são alvo de chacinas, como a que a aconteceu há cerca de dois anos na zona de paisagem protegida do Corno do Bico, Paredes do Coura, onde vários cavalos foram abatidos a tiro, ou deixados a agonizar. A causa? Não se sabe, fala-se de rixas entre vizinhos. Provavelmente a justiça vai morrer solteira...

Fora isso, imagino que sejam ainda as presas de maior porte dos lobos. É comum ver ossos limpos que parecem de cavalos, espalhados pelas partes altas das serras. Mas nunca se encontra uma carcaça ou um esqueleto.

Mas vamos falar de coisas mais alegres. Segundo li, é uma raça de origem celta, muito primitiva e considerada em perigo de extinção. As ameaças são os agricultores  que não gostam da sua condição de animais livres, pois danificam-lhes as culturas quando o mau tempo aperta e eles descem das montanhas, bem como os cruzamentos com outras raças. 

É um cavalo de porte atarracado e robusto, bem adaptado à montanha e à intempérie. Para quem estiver interessado, há diversos sites e blogues sobre os pormenores e carecterísticas da raça, é só googlar - garrano. Eu vou ocupar-me mas com os garranos do Minho e o que eu posso aferir daí. São opiniões pessoais, posso estar enganado. Se assim for, por favor, comente este tópico e corrija-me.

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Potro num redil feito de esteios com pasto, no meio de um bosque no Mezio no final da Primavera de 2008. Quase todos os garranos presos, quando nos aproximamos vêm ter connosco. Não acredito que queiram "festas", apesar de não se importarem de ser tocados. Estou quase certo que se os soltarem eles piram-se sem hesitar, sem voltarem para trás para mais carícias, como faria um cão, por exemplo. Esta é a diferença entre o garrano livre e o cavalo de sela ou tracção. É que o garrano vê o redil e foge, enquanto os seus primos domesticados, vêm a calariça e até aceleram o passo para ela, onde sabem que ali vão ter descanso, comida e tratamento.

Este cavalo foi fotografado no final da Primavera no planalto do Mezio. Saliento dois aspectos. O primeiro é que os garranos já apareciam em manada mas dispersa, como se vê pela imagem é um aqui outro ali. O segundo é que este exemplar, de todos os que vi, é o que mais me fez lembrar os das pinturas rupestres ou os das descrições dos garranos mais genuínos. 

Cinco ou seis semanas depois, muito perto daquele mesmo planalto, uma manada, com muitas crias a descansar debaixo destas coníferas. Reparem como estão todos muito juntos. Os adultos estão com as cabeças bem altas. Nunca os tinha visto tão atentos a mim. Nem pastam.

Fiquei entusiasmado com esta cria a mamar. Talvez um pouco demais. Escondido, em pé atrás do tronco de uma árvore.

Este macho não achou graça nenhuma, eriçou-me a crina, abanou as orelhas várias vezes e arreganhou as gengivas. Então um garrano mais novo passou por ali e demonstrou nele o que estava a sentir, expulsando-o da manada a galope e mordendo-lhe os quadris, passando os dois, nesta perseguição a dois metros de mim.

Quem devia estar àquela distância dali, era eu. Por minha culpa, o pobre do jovem macho foi parar longe da manada, tipo de "castigo". Aprendi a lição. Nunca mais me aproximo tanto de manadas com crias tão novas.  

Branda de Poulo da Seida - Gavieira, Serra da da Peneda. A história podia ser igual à anterior. O adulto está a encarar-me. Mas desta vez, fiquei mais longe, aninhado atrás de uma pedra, em vez de ficar em pé e usando a zoom.

Apesar de ainda olharem para mim, um macho até se deitou à minha frente e esponjou-se na erva, o confiado.

Quando me vim embora, já não me ligavam nenhuma. Nem os adultos, nem as crias. Era como se ali não estivesse. Esta foi a manada de garranos mais bonita que já vi.

Entrando pelo Verão, as crias crescem um pouco e deixei de ver as manadas. Vê-se as éguas preocupadas a pastar com uma cria. Aqui no Mezio em Agosto, um garrano, está tão ocupado em pastar que nem se importa de servir de fundo de foto para a Isabel.
Dois garranos pastam tranquilamente em Setembro no Curral do Vidoeiro, Gerês.
Já em Outubro, esta fêmea que parecia prenha e a cria em baixo no Mezio, andaram comigo, mais de meia hora. Eu fotografava cogumelos, eles pastavam. Tentei tirar-lhes uma foto com a cara para cima, foi impossível. O comportamento é completamente diferente do de há uns meses atrás quando as crias eram pequenas. Parece que agora o que importa é arranjar nutrientes para o Inverno que aí vem.


Outubro, Trilho do Castelo, Terras do Bouro, a cena repete-se, não levantam a cabeça para a fotografia, nem por nada. É pastar e andar, calmamente a passo pela floresta.
Há umas semanas atrás em Sistelo Arcos de Valdevez. No meio da neve e frio. Com pouco pasto, já nos olham languidamente e com a pelagem densa comprida e fosca do Inverno. Quem sabe trazemos um fardito de feno... e já não mostram o vigor do final do Verão coitados. Aguentem só mais um pouco. A Primavera e o pasto verde já estão quase aí!

Até breve!

Manel

PS - Conheço dois lugares com manadas de garranos bem numerosas. A mais interessante,  no Trilho da Mesa dos Quatro Abades, Freguesia de Refoios, Ponte do Lima (entre Vacariça e Sra do Monte). A outra em S. Lourenço da Montaria, mais para os lados de Vila Praia de Âncora (interior). Esta última talvez mais dispersa nem sempre fácil de encontrar. Com sorte, pode ser avistada perto do santuário da Sra. do Minho.

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