domingo, 15 de fevereiro de 2009

Vale Glaciar do Vez com Vagabundeandos: Há pelo menos um carro de bois a ranger sobre os carreteiros...

Foi uma caminhada dura para mim. Acho que estou em baixo de forma para tanto carreteiro. Obrigado Vagabundeandos, pela paciência  e esperarem aqui pelo caracol.

É um percurso de brandas, muito bonito, todo ele feito por carreteiros íngremes e caminhos de pastores. Um dia muito bem passado e que me fez muito bem!

Quando vi e ouvi um carro de bois ranger pelos carreteiros, senti-me um privilegiado. Afinal esta rede imensa de caminhos de pedras com os trilhos dos carretos dos ainda faz juz ao seu nome. Os últimos carros de bois ainda rangem em cima deles, para os lados de Sistelo. Outro dia, vi por baixo de uma casa, vários carretos em bom estado, todos guardados em Germil, se calhar, lá na altura das colheitas ou vindimas, também os devem usar...

(Clique na imagem para a aumentar)

A neve do último mês derreteu, engrossou o caudal dos ribeiros que alagaram as partes mais baixas dos carreteiros

Serão cogumelos? Identificado em  cogumelosportugal
Afinal parece que são líquenes: Cladonia macilenta.

Qual seria o uso destes edifícios isolados e tão sólidos no meio da montanha, onde apenas existem uns campos, onde só  deve crescer feno para o gado? Currais em baixo e silagem de feno para os animais em cima?

Uma das muitas escarpas que contornámos no caminho, fotografadas à pressa, pois havia muito chão para andar...

Uma branda, já bastante alta, com uma fonte de água muito fresca no meio mas, daqui ainda haveriamos de subir bastante.

Vista deslumbrante deste local

Cá está ele, fotografado de longe, com a zoom no máximo. Uma carga de lenha, quem sabe para se aquecerem, fumarem uns enchidos ou cozerem um belo pão. O ranger do carro, encheu a serra e a minha alma. Se ainda houver daqueles com eixo e rodas de madeira, vou ver se consigo filmá-los este ano.

Branda do Crastibô - Fantástico e intrigante!

Das brandas que já visitei, esta é a mais interessante. Os seus cortelhos, sugerem que inicialmente tenha sido usada apenas como uma branda de gado. Depois deve ter passado para branda de cultivo. Daí os currais maiores, os fornos, os campos de centeio, talvez batata. As brandas de gado foram transferidas então bem mais para cima. A inverneira, ou seja, a habitação permanente desta comunidade pastoril, ainda deve ser Porto Cova, onde iniciámos o trilho.


Cortelhos, como os de Poulo da Seida, na Freguesia da Gavieira

Tive a sorte de ver a actividade pastoril na Branda de Gorbelas quando estavam a cortar e silar o feno. Era muito mais pequena que esta. Agora imaginem o que deveria ser esta comunidade nos seus tempos áureos. Será que um dia, os produtos autóctones irão voltar a ser revalorizados e estas comunidades possam ser reactivadas, com esta ou outras actividades eco-sustentáveis? Desabafos de um utópico...
Ribeiro que passa pela Branda de Crastibô
Tapete denso e fofo sobre o muro de pedra solta na Branda de Crastibô. Será musgo e líquen?
Despedimo-nos de Crastibô com o sol a sumir por entre os seus currais sem telhado


Última perspectiva do Vale Glaciar do Vez, já no final do percurso

Quero agradecer aos autores do texto "Pastoreio livre no Norte de Portugal". São eles Adelino Gouveia, José Vieira Leite e Rui Dantas. Desde que subi até à Branda de Poulo da Seida que pergunto e pesquiso sobre o funcionamento destas comunidades e que os cortelhos me intrigam. Nem que fosse mais sintetizada, era este o tipo de informação interessante que eu gostaria de ver impresso nas centenas de quilos de papel produzidas anualmente pelas autarquias, turismo, icnb, associações de desenvolvimento regional, e demais organizações envolvidas na promoção desta área. Algum com interesse questionável. Aos  autores, muito obrigado. 
O texto completo está disponível nesta página da SPER. Procure por "Pastoreio livre no Norte de Portugal.

Até breve!

Manel

PS - Se gostou deste tópico, veja também o do trilho das brandas

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